terça-feira, 25 de março de 2014

Tata,
dois pontos que tenho percebido nos dias correntes tem me causado reflexões que, certamente, se estivéssemos frente a frente – numa loja de conveniência do posto de gasolina, num barzinho ou dentro do carro estacionado em frente à minha casa – seriam divididas justamente para torná-las possibilidades multiplicadas.
A correria dos dias – fruto consciente de minhas escolhas – ao passo que me aponta para o horizonte que vislumbro enquanto pessoa e futura profissional; me bota em dúvida no tocante à validade e qualidade desses esforços. E isso vai de encontro com as partilhas de sentimentos que você fez, pois, não conseguir me impor momentos de cultivo à poesia, à arte, ao silêncio ou mesmo à escrita que me revela, faz com que eu me distancie da essência daquela que busca se reconhecer nos passos dados. Como posso levar arte, poesia e possibilidade ao outro, se não tenho feito isso por mim, se não tenho tido tempo de cercar-me dela por todos os lados?
Daí em diante, surge-me outra reflexão: como é fácil descambar! Descambar na solidão infértil, na conversa fluida e sorridente embora sem razão e emoção, na alimentação que não alimenta, na preguiça, no medo, na insegurança... É preciso uma vigilância e luta contínua para fazer dos dias, dias de superação, de resistência, de evolução pessoal. Como é difícil essa tarefa que nos impomos de sermos a cada dia pessoas melhores do que fomos no dia anterior. Mas, pior ainda, é a constatação de que nem sempre – quase nunca – conseguimos.
Ser vencido vez ou outra pelos fantasmas que nos rondam, é uma das vivências que mais tenho tido dificuldade em aceitar como parte do processo, da experiência de viver verdadeiramente.
Enfim, enquanto escrevo parece que sinto seus olhos fortes – pintados com um misto de dor e alegria – sentindo, respeitando, levando em conta, e refletindo sobre cada dizer meu... Você mergulha comigo, você topa enfrentar abismos numa conversa – e, melhor do que ninguém, você sabe como isso me é necessário para fazer do cotidiano, um cotidiano sentido; e sei que sabe a falta que isso anda me fazendo.
Sinto falta de minha profundidade. Eu me afogo justamente no raso.
No mais, acho que os sentimentos mais diversos cabem na palavra “saudade”. Saudade que me toma de assalto todos os dias.
Te amo!


Obs: Acho que tanto desfazer, como criar um sorriso não sentido é uma estratégia covarde. Coisas boas acontecem todos os dias sim, mas talvez a obrigação de enxergá-las o tempo todo – sem descanso – pode se transformar numa espécie de prisão, de castigo.

sexta-feira, 21 de março de 2014

Um ensaio sobre a Cegueira

 

 
Irmã a postergação da comunicação realmente nos afasta de nós mesmas,  e inúmeros foram os obstáculos que encontrei para dar inicio a essa comunicação com cara e efeito de respiração... A correria do dia-a-dia, a dificuldade de fechar um novo plano de internet e isso me fez refletir o quanto o Mundo exterior nos distancia de nós mesmos! Os compromissos com o outro e pelo outro muitas vezes nos suga com tamanha intensidade que nós negligenciamos nossos sonhos.
Estar o tempo todo á disposição do outro e/ou dos outros nos impede de sermos intensas, sensíveis e verdadeiras, e o que antes era inteiro se transforma em 1/2, 1/3.... 1/100 e isso indiscutivelmente não combina conosco.

Preciso vivenciar mais essa comunicação verdadeira contigo, preciso sair do raso, da água misturada com terra, da lama e mergulhar em profundezas que antes me eram mais cotidianas que hoje, quero ver a vida com otimismo e a sensação diária de "dever cumprido".

Saudades de conversar sobre livros, sobre músicas, sobre filmes, sobre poesias, de planos, de política, de estar ao lado de artistas da vida, que amam o que fazem e que vivem o amor, que tem brilho nos olhos, esperança e a atitude .

Amiga sabe o filme “O ensaio sobre a cegueira”? Comecei a perceber o quanto a mulher que enxergava sofria, sofria até talvez mais que os outros e você já deve imaginar porque pensei tanto neste filme.

Desfazer um sorriso para distanciar muitos contatos é uma estratégia dos covardes não acha? E ser covarde porque? Para se proteger?
Coisas boas acontecem o tempo todo não é? Mas porque não as vemos em alguns momentos?

Li esse poema hoje:

" Sou o que quero ser, porque possuo apenas uma vida e nela só tenho uma chance de fazer o que quero.
Tenho felicidade o bastante para fazê-la doce  dificuldades para fazê-la forte,
Tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz.
As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas,
elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. "
Clarice Lispector
 

Muito longe de parecer algo pronto, termino aqui o desenho do quadro da paisagem do meu coração nesta tarde de hoje!

Irmã... Te Amo!
Tati

domingo, 9 de março de 2014

Ponta pé inicial.

foram dias que se passaram em que eu posterguei o início dessa troca virtual. 
foi logo que compreendi que o atraso disto era uma forma de atraso meu comigo mesma. sempre soubemos - e eu sempre fiz questão de reafirmar - que o laço contigo supera denominações tais quais amigas ou até mesmo irmãs. irmã é o que mais se aproxima do que eu gostaria de afirmar quando falo de você, mas não algo como irmãs de sangue que se dão muito bem, que reconhecem-se uma na outra; vai além, talvez algo como "irmãs de alma" que não é o sangue que é um só, mas a alma que é uma só, proporcionando a mais legítima sensação de que conversar, trocar, dedicar-me e cuidar da minha relação contigo, é como estar conversando, trocando, dedicando-me e cuidando de mim mesma. uma parte minha que vive fora de mim. 
me esforçar para manter e aumentar a constância dessa troca (ainda que seja virtualmente) é um presente que darei-me todos os dias. o encontro contigo - seja em pensamento, em palavras trocadas, ou num abraço e silêncio físicos - é alimento, é respiro, é fôlego, é alívio, é energia e entrega que reverberam em meus dias, que reverberam em minha própria construção.  
a busca por conhecer-me - aos meus sabores e dissabores - torna-se muito mais apetitosa quando feita através de uma troca com outro ser humano, sobretudo, quando este parece conhecer mais você do que você mesmo. 

inicio agradecendo a maneira bonita com que você tem me mostrado todos esses anos as infinitas maneiras de me ser, e de ser um outro.

e se bem nos conhecemos - e nos reconhecemos -, algo assim não pode ficar restrito a nós mesmas. o mundo precisa de coisas bonitas a serem mostradas, compartilhadas, divididas, postas para voar...e certamente, nossa relação é uma dessas coisas. passarinho preso não voa. palavras presas também não. nada mais justo do que um blog, portanto.

eu te amo, tata minha.

marina.