Tata,
dois
pontos que tenho percebido nos dias correntes tem me causado reflexões que,
certamente, se estivéssemos frente a frente – numa loja de conveniência do
posto de gasolina, num barzinho ou dentro do carro estacionado em frente à
minha casa – seriam divididas justamente para torná-las possibilidades
multiplicadas.
A
correria dos dias – fruto consciente de minhas escolhas – ao passo que me
aponta para o horizonte que vislumbro enquanto pessoa e futura profissional; me
bota em dúvida no tocante à validade e qualidade desses esforços. E isso vai de
encontro com as partilhas de sentimentos que você fez, pois, não conseguir me
impor momentos de cultivo à poesia, à arte, ao silêncio ou mesmo à escrita que
me revela, faz com que eu me distancie da essência daquela que busca se
reconhecer nos passos dados. Como posso levar arte, poesia e possibilidade ao
outro, se não tenho feito isso por mim, se não tenho tido tempo de cercar-me
dela por todos os lados?
Daí
em diante, surge-me outra reflexão: como é fácil descambar! Descambar na
solidão infértil, na conversa fluida e sorridente embora sem razão e emoção, na
alimentação que não alimenta, na preguiça, no medo, na insegurança... É preciso
uma vigilância e luta contínua para fazer dos dias, dias de superação, de
resistência, de evolução pessoal. Como é difícil essa tarefa que nos impomos de
sermos a cada dia pessoas melhores do que fomos no dia anterior. Mas, pior
ainda, é a constatação de que nem sempre – quase nunca – conseguimos.
Ser
vencido vez ou outra pelos fantasmas que nos rondam, é uma das vivências que
mais tenho tido dificuldade em aceitar como parte do processo, da experiência
de viver verdadeiramente.
Enfim,
enquanto escrevo parece que sinto seus olhos fortes – pintados com um misto de
dor e alegria – sentindo, respeitando, levando em conta, e refletindo sobre
cada dizer meu... Você mergulha comigo, você topa enfrentar abismos numa
conversa – e, melhor do que ninguém, você sabe como isso me é necessário para
fazer do cotidiano, um cotidiano sentido; e sei que sabe a falta que isso anda
me fazendo.
Sinto
falta de minha profundidade. Eu me afogo justamente no raso.
No
mais, acho que os sentimentos mais diversos cabem na palavra “saudade”. Saudade
que me toma de assalto todos os dias.
Te
amo!
Obs:
Acho que tanto desfazer, como criar um sorriso não sentido é uma estratégia
covarde. Coisas boas acontecem todos os dias sim, mas talvez a obrigação de
enxergá-las o tempo todo – sem descanso – pode se transformar numa espécie de
prisão, de castigo.
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